ONU alerta sobre impactos da mudança climática nas geleiras – Países em desenvolvimento nas montanhas precisam de US$ 187 bi anuais

ONU alerta sobre impactos da mudança climática nas geleiras – Países em desenvolvimento nas montanhas precisam de US$ 187 bi anuais

Fonte: Agência Brasil. Reportagem: Fabíola Sinimbú. Pubicado em 21.03.2025.

O Relatório Mundial de Desenvolvimento Hídrico das Nações Unidas de 2025 traz um alerta sobre o impacto do aquecimento global na água doce do planeta presente nas montanhas na forma de neve, gelo e solo congelado. Segundo o estudo, cerca de dois bilhões de pessoas no planeta dependem diretamente das águas das montanhas para viver, mas caso ela acabe, todo o mundo será afetado.

Nas projeções sobre os efeitos do aquecimento global para a criosfera – regiões que contêm água congelada – o relatório aponta uma perda de 26% a 41% da massa total das geleiras nas montanhas em todo o mundo até 2100. Isso terá efeitos sobre ecossistemas e populações que produzem alimentos, energia e geram crescimento econômico a partir das águas armazenadas nas montanhas.

O relatório destaca, ainda, os impactos do derretimento das geleiras no ciclo hidrológico, que, com fluxos de água mais variáveis e incertos, causam mudanças nos padrões do clima e das chuvas e consequente aumento dos riscos de inundações e deslizamentos de terra.

De acordo com a publicação, a perda de massa das geleiras ocorridas entre 1985 e 2014 resultou em 713 eventos de extremo climático que geraram perdas econômicas equivalentes a US$ 56 bilhões e afetaram mais de 258 milhões de pessoas, deixando mais de 39 mil mortos.

Desafios

O relatório destaca, também, que o desafio de melhorar a governança desses recursos das montanhas ocorre em um contexto em que 2,2 bilhões de pessoas permanecem sem acesso à água potável e segurança hídrica e 3,5 bilhões de pessoas não têm acesso ao saneamento básico no mundo.

Os caminhos apontados pelo relatório da ONU sugerem uma melhoria na obtenção e qualidade dos dados de monitoramento das geleiras, como maior precisão para avaliação do balanço de massa, condições térmicas e umidade do solo congelado.

“Ter dados abertos e livremente acessíveis com observação e previsão integradas para bacias de montanha é um meio valioso para reduzir lacunas de recursos”, destaca o documento.

As contribuições do conhecimento indígena, das mulheres e das comunidades mais afetadas nos projetos científicos são destacadas na publicação como fundamentais para compreensão dos desafios, divulgação, educação e engajamento comunitário. “Os povos indígenas têm conexões antigas com a terra e a água nas regiões montanhosas, que estão profundamente enraizadas em suas práticas culturais, espirituais e de subsistência”, enfatiza.

O envolvimento das comunidades científicas e o compartilhamento de dados além das fronteiras entre os países também são considerados peças-chave na busca por soluções para bacias hidrográficas que não coincidem com os limites políticos, dizem cientistas. “Gerenciar a diversidade e a complexidade dos recursos hídricos requer contribuições de uma série de disciplinas, atores e programas de treinamento transversais”, alerta o documento.

Financiamento

O relatório destaca ainda que serão necessários investimentos de aproximadamente US$ 187 bilhões por ano para financiar a adaptação de países em desenvolvimento nas montanhas. Atualmente, o fluxo financeiro internacional dá conta de apenas US$ 13,8 bilhões ao ano para essa finalidade.Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), os dados reunidos no relatório Montanhas e Glaciares: Torres de Água servem de base para o comprometimento dos países com ações climáticas e estão alinhados ao Ano Internacional da Preservação das Geleiras.